Estréia O Vigilante Rodoviário

Um dos clássicos da TV brasileira retorna hoje à noite pelo Canal Brasil. "O Vigilante Rodoviário" terá episódios, totalmente remasterizados, exibidos todas as segundas sempre às 20h30 com reprises às terças, 15h30 e domingos, 11h.

Apesar da série ser apontada pela mídia como a representante do primeiro herói brasileiro, este mérito não cabe ao Vigilante. Ele é, sim, a primeira série filmada em película no Brasil, visto que antes deles já eram produzidas séries ao vivo estreladas por heróis como "Capitão Sete" ou "Falcão Negro", por exemplo.

Na histrória temos o policial rodoviário, Carlos (Carlos Miranda) que patrulha as estradas de São Paulo a bordo de um carro Simca Chambord ou de sua moto Harley tendo como companhia seu fiel amigo o cão Lobo. Seguindo uma narrativa didática, a série fez parte da infância de uma geração que hoje encontra-se na faixa dos 40 anos ou mais. Visto ter sido reprisada poucas vezes, a última que se tem notícias foi nos anos 70 pela rede Globo, a série manteve-se presente apenas na memória e no carinho dos fãs que conquistou ao longo dos anos. Agora, com as reprises, ela poderá se perpetuar como ocorre com tantas produções clássicas estrangeiras. Quem sabe, se no futuro próximo a série chega em DVD? Vamos torcer!

Criada por Ary Fernandes em 1959, a série foi produzida por ele e seu sócio Alfredo Palácios, com o apoio da Nestlé. A série teve um total de 38 episódios produzidos, dos quais apenas 36 conseguiram ser resgatados. A idéia era retratar de forma heróica as atividades da polícia rodoviária estadual, que contava com 600 homens no início dos anos 60.

Para atrair mais rápido o interesse e o afeto do público, especialmente das crianças, foi introduzido um cão pastor como "colega" de trabalho do Vigilante Carlos, apesar do fato da polícia rodoviária não utilizar cães em seu trabalho de patrulha. Eles somente eram utilizados no combate às drogas. Para que o personagem do Lobo pudesse ter credibilidade junto à estrutura da série, foi criado um episódio que introduz o cão e justifica sua presença no patrulhamento.

Por sorte, a produção encontrou o cachorro King, que já tinha feito comerciais para a televisão. Esperto, já conhecendo pequenos truques e de porte pequeno (ele não era pastor alemão puro), o que lhe permitia caber no cilindro da moto, King foi escolhido para interpretar Lobo. E, ao contrário das produções estrangeiras que utilizam um cão para cada série de truques, King realizava todos os truques que vemos Lobo fazer.

Após um ano e meio da produção do episódio piloto, o qual foi feito com os salários que Ary Fernandes e Alfredo Palácios ganhavam na agência de publicidade em que trabalhavam, os dois levaram o material para possíveis patrocinadores, tentando vender a idéia da série.

Inicialmente encarado com descaso pelas agências e representantes de empresas multinacionais, o piloto de "O Vigilante Rodoviário" foi logo conquistando o interesse de possíveis patrocinadores à medida em que era exibido. A Nestlé apressou-se em fechar negócio com os sócios Fernandes e Palácios, tornando-se a patrocinadora oficial da série.

Mas, a produção da série sofreria logo em seguida seu primeiro problema financeiro. Com valores calculados com base na isenção de impostos nas latas de filmes importadas, a série ficaria no prejuízo quando, no dia seguinte à assinatura do contrato de patrocínio, o então Presidente da República Jânio Quadros, suspendeu a isenção através da Instrução 204/208. Os negativos dos filmes, que não eram fabricados no Brasil, dobrou de preço e a produção da série iniciou no vermelho.

Com a diferença de valores sendo coberta pelo próprio bolso dos produtores, Ary Fernandes e Alfredo Palácios, a solução foi agendar apresentações ao vivo em várias cidades, onde Carlos Miranda apresentava-se, juntamente com o cão King, vestido com a roupa do vigilante Carlos.


Com filmagens feitas nas Rodovias Raposo Tavares, via Anchieta e Anhanguera, entre outros locais, "O Vigilante Rodoviário" estreou em 1961 pela TV Tupi conquistando 57 pontos na audiência. Visto que ainda não existia a exibição de novelas diárias (elas eram semanais), não havia a concorrência entre a série e as novelas.

Seu sucesso o levou ao cinema com o lançamento de três filmes, que eram a compilação de quatro episódios da série. Estes receberam os títulos de "O Vigilante Rodoviário", "O Vigilante e os Cinco Valentes" e "O Vigilante e o Mistério do Taurus Trinta e Oito", os quais contavam com cenas inéditas, filmadas para emendar as histórias dos episódios.

O sucesso da série no Brasil levou Ary Fernandes a negociar sua venda à países da América Latina e Central, mas o monopólio internacional impediu a exportação da série.

Filmadas com uma câmera Arryflex 35 mm, e copiadas em 16 mm, as histórias foram quase todas escritas por Ary Fernandes que também escreveu a letra do tema de abertura, gravado pelo grupo "Os Titulares do Ritmo". A série trouxe vários atores em início de carreira e que hoje são famosos, como Rosamaria Murtinho, Ary Fontoura, Fúlvio Stefanini, entre outros.

Apesar da fama, a produção de "O Vigilante Rodoviário" encerrou em 1962 devido à mudança de diretoria da empresa Nestlé no Brasil. O responsável pelo Departamento de Marketing, que dava apoio à série, foi transferido para a Suíça e seu substituto impôs uma condição para manter a produção: transferir para a Nestlé todos os direitos autorais de "O Vigilante Rodoviário". Ao recusar a proposta, Ary Fernandes e Alfredo Palácios perderam o patrocinador, um dos poucos na época a ter recursos para sustentar os altíssimos custos da produção de uma série semanal.

Após algumas reprises pelos canais TV Cultura (1962), TV Excelcior (1968), TV Record (1971) e TV Globo (1976), os episódios da série foram guardados e mantidos longe dos olhos do grande público. Tentando trazer seu personagem de volta à vida, Ary Fernandes produziu um novo filme em 1978, pela Embrafilme. Contando com outro ator, Antônio Fonzar, e imagens coloridas, o filme tinha como objetivo vender a idéia para uma nova série, o que acabou não acontecendo.

Afastado de "O Vigilante Rodoviário", Ary Fernandes dedicou-se à produção de outra série criada por ele, "Águias de Fogo", em 1966, sobre o dia-a-dia de pilotos da Força Aérea Brasileira, que teve um total de 26 episódios. Já Carlos Miranda, o protagonista da série, entrou para a Polícia Militar, na qual criou o setor de Relações Públicas. Entrou na reserva em 1998 mas ainda participa de campanhas de conscientização no trânsito. Vive atualmente no interior de São Paulo. Alfredo Palácios já é falecido.

A produção de 1978

O cão King/Lobo morreu, alguns dizem que foi em 1965, outros em 1971. Ele pertencia a um outro dono que na época morava no bairro de Vila Maria. Mas por passar muito tempo na companhia da família de Ary Fernandes, King costumava fugir de seu primeiro dono para passar mais tempo com os filhos do produtor que morava no bairro Santana. Em uma dessas escapadas ele foi atropelado.

Com as reprises da série pelo canal Brasil, espera-se conquistar o interesse de um novo público, o que poderá possibilitar a produção de novos episódios, com uma narrativa mais atual, tendo mais ritmo e cenas de ação.

O canal Brasil inicia a reprise com o episódio "Diamante Grã-Mongol", que é o 13º na lista de produção da série. No dia 16 será a vez de "O Recruta", que é o 2º na lista de produção, seguido de "A História do Lobo, no dia 23, que é o episódio número 37 na lista de produção.

Abaixo, a lista dos episódios da série fornecidos pelo produtor à revista TV Séries em 2000.

1. Os 5 Valentes
2. O Recruta
3. Bola de Meia
4. O Ventríloquo
5. Extorsão
6. Jogo Decisivo
7. Pânico no Ring
8. Zuni, o Potrinho
9. A Orquídea Glacial
10. Remédios Falsificados
11. Os Romeiros
12. A Repórter
13. Diamante Grã Mongol
14. O Fugitivo
15. Aventura em Ouro Preto
16. Chantagem
17. O Homem do Realejo
18. A Eleição
19. A Pedreira
20. O Pagador
21. O Sócio (também conhecido como O Aventureiro)
22. A Aventura do Tuca
23. O Invento
24. Terras de Ninguém
25. Rapto do Juca (com participação de Juca Chaves)
26. Aventura em Vila Velha
27. Pombo Correio
28. Ladrões de Automóveis
29. O Suspeito
30. O Garimpo
31. A Fórmula de Gás
32. Café Marcado
33. O Assalto
34. O Mágico
35. Mapa Histórico
36. O Mordomo
37. A História do Lobo
38. Mistério do Embú (também conhecido coo Tesouro do Embú)

Este texto é um resumo de matérias publicadas na revista TV Séries números 23, de 1999, e 33, de 2000, as quais foram escritas com base em entrevistas com Ary Fernandes e sua filha Vânia Pesce.


Comentários

Anônimo disse…
Fiz contato com produtora e fui informado que as negociações para sair em DVD está próximo do final. Mas tudo indica que apenas 21 episódios foram recuperados até o momento. Sobre os restantes não tivemos informação. Um abraço, José Renato
Fernanda Furquim disse…
Obrigada pela informação José Renato!
Rubens disse…
Há um pequena incorreção no texto: a serie retrata a POLICIA RODOVIARIA ESTADUAL de S.Paulo (recém-criada na época), e não a "policia federal", como saiu escrito.
Fernanda Furquim disse…
Obrigada Rubens, informação corrigida!

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